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A Rota dos Andes: uma travessia entre sonho, superação e conexão profunda com a natureza

A Rota dos Andes: uma travessia entre sonho, superação e conexão profunda com a natureza

Por Luciano Ties

Entre montanhas imponentes, vales infinitos e o silêncio cortante da altitude, nasceu uma jornada que carrega muito mais do que quilômetros percorridos. A Rota dos Andes não é apenas um caminho — é um portal para dentro de si mesmo, uma travessia histórica, física e emocional que ecoa no corpo e na alma de quem se atreve a enfrentá-la.

Neste relato, compartilho como foi cruzar os Andes a pé, com mochila nas costas, em uma das experiências mais intensas da minha vida.

Você também pode conferir o vídeo completo no Youtube, onde contamos um pouco mais de como foi essa experiência. 

A origem de um sonho

A vontade de conhecer os Andes surgiu ainda na infância. Lembro de escutar, fascinado, as histórias do nosso vizinho, conhecido carinhosamente como Chapolin, um caminhoneiro que fazia a rota até o Chile e contava como era cruzar a Cordilheira. Seus relatos despertaram em mim a curiosidade e o encantamento pelas montanhas que pareciam inatingíveis.

Anos depois, recebi o convite do meu amigo Henrique, que está viajando as Américas de bicicleta e havia vivido por um ano em uma fazenda próxima ao início da travessia. Nosso desejo de viver aventuras juntos encontrou ali sua oportunidade perfeita.

A Travessia dos Andes: dados e desafios

O Cruce de los Andes, como é chamado em espanhol, é uma das travessias mais emblemáticas da América do Sul. O trajeto que percorremos segue uma rota histórica, ligada à independência da Argentina e do Chile, usada pelo General San Martín durante as lutas de libertação.

mapa rota dos Andes

Características da travessia:

  • Distância total: cerca de 85 a 100 km, dependendo do trajeto exato.
  • Tempo médio de travessia: 5 a 7 dias de caminhada.
  • Altitude máxima: aproximadamente 3.800 metros.
  • Altitude média: entre 2.000 e 3.500 metros.
  • Temperatura: pode variar de 5°C a 25°C, dependendo da estação e da altitude.
  • Rios: vários, formados pelo degelo das geleiras. Alguns só podem ser atravessados a cavalo.

Planejamento e preparação

O tempo entre o "vamos?" e o embarque foi curto: apenas três meses. Nesse período, mergulhamos em pesquisas, vídeos e blogs — como o valioso conteúdo do casal do Mochilão Sabático — e contamos com a experiência de cinco moradores da fazenda onde Henrique viveu.

Preparo físico e mental

Mantive minha rotina de atividades físicas com mais foco em resistência: corrida com subida em morros, yoga, pilates e muitas caminhadas com mochila. Também busquei meditação, leitura e conversas com montanhistas experientes. A mente precisava estar tão forte quanto o corpo.

Na alimentação, mantive minha dieta baseada em plantas, apenas reforçando os carboidratos para ganhar mais energia pré-travessia.

A mochila nas costas e o mundo nas mãos

A maioria das pessoas cruza os Andes com o apoio de guias, cavalos e estrutura logística. Nós escolhemos o caminho oposto: autossuficiência total. Cada um carregava aproximadamente 20 kg de equipamentos, comida e água.

Equipamentos que fizeram a diferença:

  • Mochila cargueira de 50L: espaço suficiente para comportar toda a bagagem.
  • Barraca Condor da Portable Style: super portátil e resistente, fez toda a diferença para não pesar na bagagem.
  • Garrafa Stone Water da Portable Style: filtro que garantia uma água potável por toda a jornada.
  • Isolante inflável Portable Style: essencial para o conforto e isolamento térmico.
  • Chapéu UV e roupas técnicas: proteção indispensável contra o sol e o clima severo.
  • Sacola estanque da Portable Style: versátil para armazenar comida e transportar água extra.
  • Toalha de microfibra e manta multifuncional da Portable Style: praticidade,  conforto e proteção para os equipamentos no dia a dia no acampamento.
  • Saco de dormir: conforto térmico durante o descanso.
  • Roupa impermeável: Ideal para as variações de temperatura da região.
  • Kit de primeiro socorros: manta térmico, termômetro, pinça, algodão, gaze, esparadrapo, micropore, curativo adesivo, água oxigenada e analgésicos.

(Preparamos um checklist com todos equipamentos para um rolê de Alta Montanha, é só clicar aqui.)

O primeiro perrengue pré travessia? Organizar tudo dentro da mochila, otimizando espaço e distribuindo o peso para não comprometer o corpo.

Um fato interessante é que você começa a rota pela cidade de Mendoza, e como o turismo local é preparado para esse tipo de praticas (acampamentos, trekkings), você tem a opção de locar todos os equipamentos lá mesmo. 

Checklist de alimentação

Comidas orgânicas leves são ideias para esse tipo de jornada. Grãos de preparo rápido, como arroz, lentilha. Outro tipo de refeição muito prático que usamos para esse tipo de aventura, são comidas liofilizadas, alimentos desidratados, que pesam pouco na bagagem, mas tem um rendimento grande na hora do preparo após reidratadas. 

Emoções, superações e beleza selvagem

A ficha caiu de verdade no voo de Buenos Aires para Mendoza. Foi ali que entendi: estávamos indo. Na noite anterior, um misto de felicidade, ansiedade e respeito pelo desafio tomou conta. Estávamos prestes a entrar em um lugar de onde só se sai ao chegar do outro lado.

Durante a travessia, enfrentamos:

  • Longas subidas a mais de 3.500 metros.
  • Travessias de rios gelados com correntezas imprevisíveis.
  • Dias de vento intenso e noites de temperaturas negativas.

Mas também vivemos:

  • O silêncio absoluto das montanhas.
  • A imensidão dos vales andinos.
  • A generosidade das pessoas locais e a simplicidade dos acampamentos.

Perrengues e como conseguimos lidar

Com certeza cair na água de degelo em uma das travessias no rio foi o maior perrengue que aconteceu comigo. Quando a temperatura já está baixa, se molhar por completo, assim como todas as roupas e equipamentos, não é uma coisa desejada. Mas o que salvou foi a manta térmica, que é um item fundamental no seu kit. 

Quando tivemos que atravessar outro rio com correntezas fortes, nos abraçamos os três para passar juntos e ninguém cair na água congelante novamente. Aqui, a união fez a força!

Outra coisa que aconteceu e é muito comum em altitudes como essa, foi o mal da montanha. Nesse caso, é preciso ter calma, respirar fundo e esperar os sintomas passarem. Fomos aclimatando durante o percurso inicial, subindo aos poucos para o corpo acostumar com a altitude diferente, mas, mesmo assim, algumas coisas são incontroláveis.

Ainda tivemos alguns outros perrengues, todos conseguimos solucionar pensando em conjunto e ajudando um ao outro. No vídeo do Youtube tem toda a história contada por nós, com dicas essenciais para você que quer fazer essa travessia também.

Apoio, companheirismo e gratidão

Essa aventura só foi possível graças ao incentivo dos amigos e familiares, ao apoio da Portable Style e da Fazenda Pagliafora, que nos ofereceu alimentos orgânicos plantados ali mesmo, com cuidado e propósito.

Henrique foi mais do que um parceiro de viagem — foi um irmão de jornada, com quem compartilhei risos, aprendizados e silêncios cheios de sentido.

Reflexões e inspiração

Se pudesse dar um conselho ao “eu” de antes da viagem, seria simples:

“Vai. A estrada vai te entregar o que você precisa para continuar.”

Essa aventura me lembrou que não há caminho mais autêntico do que aquele que fazemos com os próprios pés, que a natureza cura, desafia e ensina, e que é nas jornadas mais incertas que encontramos as versões mais verdadeiras de nós mesmos.

Levei comigo uma frase de Antonio Machado:

“Caminhante, não há caminho: o caminho se faz ao caminhar.”

E foi exatamente assim, passo a passo, que a Rota dos Andes virou parte de mim.

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